ANO 9 Edição 99 - Dezembro 2020 INÍCIO contactos

Artur Alonso Novelhe


O sonho das três espadas    

Prezado irmão:
Algum dia falarei consigo sobre a meditação que veio a mim, caminhando pelos montes altivos, da nossa comum pátria. Pessoa afirmava, a pátria é a língua. E a linguagem espiritual é a patria imaterial da pátria escrita pela palavra.

No início, duas espadas apareceram na minha frente: da ética e da espiritualidade, em meu coração adensadas.

Sendo a espada da ética aquela que, encravada, contemplei na pedra do fundamento. O fundamentar a pedra durou anos, decénios. Dura assim, dentro do plexo solar de cada pessoa, que um dia foi chamada, a empreender o caminho de volta à verdadeira morada. Mas essa Pedra que não pode solidificar, sem que o humano ser, anteriormente não tenha vencido suas inércias auto-destrutivas, e dissoluto seu corpo lunar: o que se esconde no cone de gelo, do insconsciente individual e coletivo.

Sendo a espada espiritual aquela que nos doa a Senhora do Lago... Mas tarde compreendi que existe uma terceira espada, entre as duas naturalmente posicionada: - a espada da glória da alma (sempre permanente em alvura imaculada, se aquele que a ama sabe cuidá-la).

A espada da ética tem cor de ferro, prestes a enferrujar (em princípio), mas depois muda de tonalidade, ao ser modelada pela mão habilidosa do aperfeiçoado artesão. Mas até ter absolutamente conseguido o caminho moral da justiça, ela nunca toma a cor da prata da sua essência. Permanece a cor da tristeza, até alguém conseguir tirá-la da sua própria pedra. Enquanto não obter a capacidade de sua espada retirar, ela assim, mesmo enferrujada, acompanhá-lo-á pelo labirínto das viagens tristes.

Somente uma mão firme, livre do medo a perder, longe da vanglória, e erradicada dos 7 erros, mal chamados pecados capitais – que são controlados através das 7 virtudes... pode tirar finalmente esta espada da sua própria pedra do fundamento.

A humildade que venceu a soberba; a generosidade que matou a avareza; a paciência que domou a ira; a caridade que modificou a inveja; a diligência que ultrapassou a preguiça; a castidade que dominou sua luxúria; a Temperança que se elevou por cima da gula... permitiram ao candidato a sanação fundamentar sua pedra granítica da fortaleza, de onde surgiu, pelo poder do amor, a ética espada. Agora, diante dos teus olhos manifesta. A mão firme do vencedor do ciclo pode tirar ela da rocha bem assentada, na terra dos compromissos, lealdade e realizados juramentos.

A outra espada, a espiritual, somente pode ser dada a si pela Senhora do Lago, quando seu caminho ao encontro de seu poder, tenha chegado ao fim da sua épica viagem. A Senhora do Lago, pude observar, é guardiã da tradição inicial assente em todo o planeta (mas oculta das garras dos corações profanadores, dos cobiçosos egoístas seres).

Com esta espada em alto, unindo seu espiríto à palavra da pureza na invocação, você poderá chamar a força dos quatro elementos. E, finalmente, conectar a energia da terra à do céu, entroncando-as na empunhadura, que transita vertical, na linha que afirma o Eixo perpendicular da Terra. Para, a seguir, irradiar luz de esplendor a Oriente e Ocidente. Formando a cruz axial, que marca o sagrado ônfalo do planeta.

Pois a espada, neste trabalho de limpeza espiritual, somente poderá ser ativada, erguida sobre o pé direito, depois balançada com o esquerdo, acima dum Sagrado Monte, rodeado pelo frescor da natureza. Também desde um aberto outeiro.

Sacralidade dum ponto sacramental para onde confluem certas redes geodésicas, forças telúricas que acodem ao certo encontro: centro de poder amoroso – e desde este local retornar imanadas, carregadas de maior força, conexão à fonte primordial, para redistribuir a seguir esta energia por todo o orbe renascendo.

Com a espada espiritual olhando para o céu, erguida pela mão direita (a espada ética se sustém com a esquerda), as energias do céu e da terra, expandido a oriente e ocidente, começam a diluir camadas de energia densa, criadas pelas formas-pensamentos negativas e as ações violentas (efetuadas durante séculos em todas as latitudes vigentes)... Sanando de novo o afectivo ambiente.
 
No nível individual, a espada da ética se coloca na coluna vertebral - a empunhadura - com o círculo na cabeça, o gargalo na gorja. De ombro a ombro os laterais. O filo partindo reto pela coluna vertebral ate o cóccix. Aquele que receber simbolicamente esta espada, terá ultrapassado definitivamente seu triste caminhar pelo mundo das sombras, sedentas de carne infesta.

Finalizado sua roda de samsara, estará em condições de realizar aquelas famosas bodas alquímicas que Christian Rosenkreuz ensinara na sua época: união da personalidade com o Eu Superior (o Divino em nós – a Shekhinah – a Purusha, traduzida como Espiritual Presença). Subtilização da máteria, espirtualização do médio. Transformação definitiva de vida energia em vida consciência.

 

Finalmente, irmão, eu deveria para ti contar, como apareceu na minha mente, a terceira espada branca da alma. Situada, no nível individual, entre a espada solar de ouro sacramental, e a espada lunar de prata (que reflete os raios do sol) da ética. Sendo esta terça espada a bainha, envoltura da espada espiritual, refratando na vibração elevada da espada fundacional da ética. Servindo, à sua vez, de ponte - conexão entre ambas permanentemente. A espada do Pontífice.

A espada da ética associada ao 3º Logos do Filho - Filha, auxiliando os nobres e generosos na realização dos pesados trabalhados, que trazidos do mundo das ideias de Platão, devem ser desenvolvidos no planeta. Esta espada afiança o caráter que cria os bons hábitos, que permitem realizar o verdadeiro justo destino do caminhar pela reta senda, que o Budha chamou, do caminho óctuplo. Por meio dele desenvolvemos o fraterno amor, do Cristo Crucificado. Pois nesse mesmo sacrificio ritual, crucifixão cerimonial, na esfera cabalista de Tiphareth, o ser mortificado pode-se desprender do seu egoísmo no medo à morte viçado. Quebrando o véu carcereiro de Paroketh, liberando todas as fechaduras e caminhos da Vital Árvore.

 

A espada branca da alma, de alvura imaculada, quando as sombras da inveja, da ira, do ódio e ressentimento forem dissipadas... Ajuda a manter as emoções equilibradas.

Destes harmónicos sentimentos, iluminados pela branca luz da espada, surgem pensamentos de beleza, bem fazer e bondade... Pensamentos que criam ações corretas, que possibilitam forjar um caráter digno e bem equilibrado.

 

Alva espada associada ao 2º Logos da Grande Mãe, a Cósmica deusa celta ANU, a egípcia MAAT... Lembremos que o Faraó era o encarregue de trazer a Ordem de MAAT, para organizar o caos nos seus domínios, sem boa orientação, selvagens.

Daí os egípcios, por norma, sempre respeitaram a Instituição de Poder, por cima daquele que ocupara o cargo... Pois no mundo celta igualmente, segundo a pessoa que fora investida a Coroa - Rei, em presença do estamento druídico, a terra trazia seus bons frutos ou escassez, dependendo do comportamento adequado ou inadequado daquele dirigente. Os Druidas auxiliavam nessa lavoura de abrir canais entre céu e terra, para permitir a descida da LEI – DHARMA. E os tempos de fartura eram um facto... Com reis desviados do caminho harmonioso, o ADHARMA anti-lei, tomava conta do território, a Deusa Soberana negava as boas colheitas, encolhendo seu ventre. E o caos dominava durante esses longos períodos de sombra.

De tudo acontecer para o bem, para maior glória da coletividade, vi no peito do eleito filho do Avatar nascer a espada espiritual, associada ao 1º Logos do Pai – no firmamento elevada.

Emanando a vontade invencível, que permite continuar, apesar das agruras da vida: duras, difíceis provações; sem recuar o render-se.

Este sonho das três espadas, irmão, finalmente revelou, que as três juntas representam o LOGOS UNO-TRIPLO, aquele BRAMHA - ATON... Doador das potentes emanações daquela substância primordial, criadora dos mundos e a multiplicidade – dentro da Unidade.

Substância que contém a divina essência. Etérea substancia, quinto elemento, do qual surgem a água, o ar, o fogo e a terra.

 

A original tabela de Mendeleev, da Classificação Periódica, na sua casinha principal com o número O - representava o Éter. Mais tarde, a sua morte, este foi removido da mesma, ficando como agora se ensina, nas aulas de química moderna.

As três espadas do sonho, irmão, falam ainda dentro de mim. Acho falaram durante algum tempo. Talvez ainda tenham algo a dizer-nos... Retomaremos, bem sei, a conversa quando, de novo, juntos pudermos estar fundidos num abraço bem fraterno...

 

 

Artur Alonso Novelhe é galego, mas nascido no México. É diplomado pela Escola Pericial de Comércio de Ourense. Exerce como funcionário do Serviço Galego de Saúde do Governo da Galiza. Publicou várias obras de poesia e colabora habitualmente com diferentes publicações, entre as quais o PGL. É sócio da Associaçom Galega da Língua (AGAL) desde os meados dos anos 80 e académico da AGLP.

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Paginação:

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