Fernando Andrade



O romance Vera Ballroom faz da mistura de Gêneros uma tessitura das complexas relações entre o masculino e o feminino.
Uma caixa de curiosidades lacrada em seu interior foi endereçada a uma mulher e depois um homem. A mulher não aguentando a vontade devido à força do seu querer saber o entorno daquela caixa, abriu-a. Viu ali o que chamam de desejo e usou como suas vestes. O homem cheio de desconfiança, paranóico em seu narcisismo relutou e não abriu a caixa, até fez pior jogou-a fora para nunca mais saber dela. A caixa do homem tinha o amor. Penso nesta caixa quando leio o livro da escritora Cleo Vaz, Vera Ballroom pela 7 letras, que acabou de ser lançado.
Pois se pensarmos na caixa com embrulho de algo interior podemos pensar que o embrulho - o modelo ou a forma de modelar o entorno seria uma questão do gênero. Temos nosso corpo lacrado e dentro dele nossos órgãos que combinam em um só organismo. Mas se o corpo obedece a padrões de comportamentos, diríamos que homens e mulheres através dos seus desejos tendem a arquétipos diferentes sobre a sua conduta sexual, através de suas zonas do espaço cênico sobre o desejo.
O homem foca o lugar - o núcleo de uma zona, pois na sua mente há uma certa face de feitiche. Vamos sair do núcleo que traz tantas segmentações - juízos de valor sobre o que e quando. O corpo como uma dança, como um palco teatral onde todas as somas se interagem, voz, cheiro, odor. A mulher encarna esta ode ao teatro.
Cleo com um texto muito bem trabalhado entre o poema na sua linguagem mimética sobre até onde os sentidos alcançam na figuração de imagens belamente traçadas, e uma forte tensão ensaística onde a hibridização entre o acadêmico e o narrativo se harmonizam sem erupções de estilo. Vera está nesta caixa de curiosidades sobre os homens e uma possível relação que saia do flerte da escapada masculina.
Ela é síntese da sua caixa e procura um laço que modele uma harmonia a dois. Mas os homens não estão nem aí para sua caixa de curiosidades, preferem um barbante qualquer para amarrar sua pressa em números. Mas, Vera, no passo a passo das relações é perseguida pela entidade fera, um superego que a bloqueia na sua procura por um parceiro. É interessante com a autora constrói este quase arquétipo sobre o controle e o bloqueio do caos. Irônico, desbocado ele tece os melhores diálogos do livro com a personagem.

Fernando Andrade, 50 anos, é jornalista e poeta. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel e do coletivo Clube de leitura onde tem dois conto Quadris na coletânea “volume 3” e Canteiro no “volume 4” do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia com entrevistas com escritores e resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e meio. “Lacan Por Câmeras Cinematográficas” e “Poemoemetria”, “Enclave” ( poemas) pela Editora Patuá e “A perpetuação da espécie” pela Editora Penalux.